5 de agosto de 2014

Como você pôde abortar o meu irmão?



A dor secreta das crianças que perderam um irmão por meio do aborto

  

Por Theresa Bonopartis


“Minha mãe não sabe que descobri sobre o aborto. Ela sofre e quero ajudá-la, mas não sei como”.

Anne me contou isto quando veio procurar conselho e ajuda. Tinha escutado recentemente uma conversa na qual a mãe falava de um aborto feito no passado. Anne não sabia o que fazer, ou o que dizer à mãe, que se encontrava em desespero.

A menina relutava em se aproximar da mãe, que já estava sofrendo, mas sabia que deveria expressar a própria dor. Sentia-se só e isolada, buscava um lugar onde alguém compreendesse o que estava passando e, ao mesmo tempo, não julgasse sua mãe, que ela amava e sentia que precisava proteger. Anne estava sozinha.

Com outros 55 milhões de abortos nos Estados Unidos, existem outras milhões de crianças como Anne que perderam um irmão por causa do aborto. Alguns souberam do aborto sem que os pais contassem, para outros foram os próprios pais que contaram, para alguns ainda existe somente a sensação de que falta alguém. 

Andrew, que tinha sempre desejado um irmão mais velho, explicou a sua reação quando a mãe contou do aborto que fez: “Do nada toda a minha vida começava a fazer sentido - cada angústia e cada tristeza. Eu tinha sentido a partida do meu irmão no meu coração durante toda a vida”.

Muitos irmãos de crianças abortadas expressam experiências parecidas de “ter sempre sabido” que faltava alguém e depois conseguir juntar ocasiões da vida quando descobriram o fato. A decisão sobre quando dizer e se é preciso contar a uma criança sobre um aborto feito a seu irmão pede uma atitude de discernimento.

"Tirar" o peso das costas do segredo de um aborto, contando-o a um filho, não encerra a questão. Ouvir o próprio filho dizer “você está perdoado” não diminui o impacto do aborto na sua vida. O fato que possa não compartilhar os próprios sentimentos com você não significa que seu filho não sofra consequências pela perda do irmão. É preciso esperar que ele enfrente várias questões que circundam o aborto. Muitas vezes as crianças não compartilham estes sentimentos negativos com os pais porque não querem provocar outra dor naqueles que amam, que já sofrem muito com isso.

Magaly confidenciou: “Logo após o aborto que minha mãe fez, comecei a não me sentir à vontade em estar com meus pais, mesmo sabendo que me amavam e que sempre cuidaram de mim. Não era possível não sentir que deveria merecer o amor deles, e que precisava justificar de alguma maneira o fato de que me permitiram nascer”. 

A realidade de estar vivo e seu irmão não muitas vezes é difícil de enfrentar. Mesmo se na maior parte dos casos o aborto não tenha nada a ver com o irmão vivente, nascido antes ou depois. Existe ainda um sentimento de “por que estou aqui e meu irmão não?”, “estaria aqui se ele tivesse nascido?”, “meu nome seria o mesmo?”.

Surgem inúmeras perguntas, mas frequentemente não existe lugar ou pessoa para ajudar as crianças a respondê-las. Como afirmou um menino: “Não gostaria de ter descoberto sobre o aborto, mas ouvi algumas conversas que me fizerem suspeitar. Quando eu tinha 11 anos, perguntei para minha mãe se ela já tinha pensado em abortar. Ela me respondeu de maneira muito gentil e honesta 'sim', estávamos na cozinha. Eu me lembro que precisei sair dali. Quando eu estava distante, senti que minhas pernas tremiam. Comecei a chorar em silêncio, de modo controlado. Amava meus três irmãos que estavam vivos com todo meu coração; de muitas maneiras a minha identidade tinha a ver com eles. Não conseguia entender por que minha mão pensava que eu poderia não amar da mesma forma o meu irmão abortado". 

Em meio a todo sofrimento, de alguma forma, existe a misericórdiade Deus. Encontrar um lugar para aliviar a dor e aprender as dinâmicas implícitas do aborto e como estas influenciam sua vida ajudarão a ser guiado. Deus pode transformar este intenso sofrimento, trazer paz e alegria para as famílias dilaceradas pelo aborto, aproximando-as a Ele. 

Theresa Bonopartis é diretora do programa pós-aborto Lumina e ajuda a desenvolver o modelo ministerial pós-aborto Entering Canaan.
Fonte: Aleteia.org

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