Jeffrey Bruno
Existe uma verdadeira conexão entre a fé e o serviço aos pobres
O premiado colunista norte-americano Nicholas Kristof, do jornal The New York Times, elogiou recentemente as religiosas católicas. Porém, ele deixou de citar toda uma categoria de freiras cuja fidelidade à Igreja faz parte do seu testemunho para o mundo.
Não me interpretem mal. Eu também acho bom quando um ganhador do Prêmio Pulitzer elogia as freiras. Kristof já fez esta boa ação várias vezes, aliás. A última, num artigo chamado "Sister Acts", sobre o novo livro da escritora Jo Piazza, “If Nuns Ruled the World” [“Se as freiras governassem o mundo”].
Jo Piazza e Nicholas Kristof têm algo em comum: "Eu posso não acreditar em Deus", diz a escritora, "mas acredito nas freiras". Jo ama as mulheres de Deus, mas não ama a Deus; Kristof, por sua vez, ama as pessoas que trabalham na Igreja, mas não ama a Igreja.
Quando Kristof escreve sobre assuntos católicos, ele procura ressaltar a sua tese de que existem “duas” Igrejas católicas.
Uma seria a "rígida hierarquia exclusivamente masculina do Vaticano" que ele considera "obcecada com dogmas e regras e distraída da justiça social".
A outra é a que "eu admiro intensamente", escreve ele. "É a Igrejacatólica de pés no chão, que faz um bem ao mundo muito maior do que jamais será reconhecido", servindo aos necessitados e educando os pobres. Ironicamente, como exemplos dessa “Igreja de pés no chão”, ele cita dois grupos chefiados pela hierarquia: o U.S. Catholic Relief Services, braço de serviços sociais católicos dos EUA, e a Caritas, do Vaticano.
"O próprio Jesus focou mais nos necessitados do que no dogma", proclama ele, esquecendo-se do Sermão da Montanha, do Discurso Eucarístico, do Discurso da Última Ceia, do Grande Envio dos Apóstolos, das Chaves do Reino, do "nem sequer um til" e de muitas outras coisas.
Em "Sister Acts", ele elogia várias religiosas pelo nome e tenta usar a vida delas para corroborar a sua história das "duas Igrejas", concentrando-se assim numa freira que entra em conflito com os "conservadores", em outra que foi silenciada pela Igreja e em mais outra que abandonou a Igreja completamente. A implicação: para ser mulheres verdadeiramente fortes, supõe-se que as religiosas deveriam se levantar contra os homens.
Seria esclarecedor, penso eu, responder a essa história das "duas Igrejas" com exemplos de mulheres fortes que pertencem à única Igreja; mulheres que aceitam todos os ensinamentos de Jesus, incluindo o seu conselho de "ouvir a Igreja" (Mateus 18,17).
A irmã Roseann Reddy, por exemplo, fundou a primeira nova ordem religiosa na Escócia em 150 anos, a fim de ajudar a cumprir a promessa do falecido cardeal Thomas Winning de que qualquer mulher que enfrentasse uma gravidez crítica ou sofresse por causa do aborto poderia achar auxílio na Igreja católica. Fundar uma ordem desse tipo exige uma força incomum, e ainda mais força incomum para encarar a opinião popular.
"Se você é membro da Igreja católica, você sabe que nós não somos uma democracia e que nunca dissemos que fôssemos uma democracia", disse ela. "A ordenação de mulheres nunca vai mudar, por causa da natureza do sacerdócio católico, que se baseia no fato de que Cristo era homem. Nós acreditamos que, quando o sacerdote celebra os sacramentos, é Cristo quem os celebra através dele".
Todo mundo é seu amigo quando você aceita a “verdade” tal como a cultura popular a vê. Mas experimente aceitar a verdade tal como Deus a vê e repare na rapidez com que você perde amigos. Olalla Oliveros sabe disso. Ela é outra mulher forte que entregou a vida a Deus.
Olalla foi uma modelo de sucesso na Espanha, mas se viu cada vez mais infeliz com a adulação do mundo em torno da beleza superficial. Certo dia, no Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal, ela sentiu um "terremoto interior".
No início deste ano, Olalla Oliveros passou das passarelas para o claustro. E não foi a primeira. Em 2005, a hoje religiosa Amada Rosa Pérez ainda era uma top model colombiana. "Eu quero ser uma modelo que promova a verdadeira dignidade da mulher e não o uso delas para fins comerciais", declarou Amada.
É preciso ter coragem para contrariar a mídia em nome da Igreja. Mas também é preciso coragem para levar a Igreja até a cultura popular.
E foi isto o que fez a irmã ursulina Cristina Scuccia, de 25 anos de idade. Primeiro, ela venceu a edição italiana deste ano do concurso musical "The Voice". Depois, ela fez o impensável: "Eu quero que Jesus entre aqui", declarou ao público, levando a plateia toda a rezar um pai-nosso televisionado.
Talvez Kristof pudesse ainda ter escrito sobre a irmã Antonia Brenner, que morreu em 2013, aos 86 anos de idade. Casada e divorciada duas vezes, ela teve sete filhos antes de se tornar freira e literalmente viver com os detentos de um presídio em Tijuana, cidade fronteiriça entre o México e os EUA e mundialmente conhecida pelos altíssimos índices de violência.
"Eu sou muito eficaz nos momentos de rebelião porque eu não tenho medo. Eu só rezo e vou caminhando para o meio do motim", disse ela à Associated Press em 2006. "Uma mulher de véu branco vai entrando, uma mulher que eles sabem que os ama. Aí vem o silêncio, a explicação e a calma".
A irmã Antonia poderia ter sido facilmente uma vítima da mentalidade das "duas Igrejas". Durante anos, depois de se divorciar, ela não pôde receber a Sagrada Comunhão. Isso não a impediu de fundar uma nova ordem, seguindo a espiritualidade de São João Eudes, para servir aos pobres.
Kristof também podia ter dado destaque a uma mulher mártir contemporânea, como a irmã Valsa John, das Irmãs da Caridade de Jesus e Maria. Aos 53 anos, ela foi espancada até a morte, há dois anos, quando trabalhava pelos povos tribais de Jharkhand, no leste da Índia. A irmã Valsa tinha passado 24 anos como voluntária nos trabalhos mais desafiadores da sua ordem. Apesar do aumento das preocupações da ordem com a sua segurança nos últimos anos, a irmã Valsa não se rendeu. "Ela estava determinada a ficar junto com o seu povo", conta a irmã Mary Scaria, da Conferência Episcopal da Índia. "A irmã Valsa não era uma freira comum. Nós perdemos uma irmã corajosa e determinada, que se levantava em favor dos pobres".
Tem sido assim ao longo dos tempos. De Santa Catarina de Alexandria a Santa Catarina de Siena, de Santa Teresa de Ávila à Beata Teresa de Calcutá: mulheres fortes têm servido tanto a Deus quanto à sua Igreja, una, santa, católica e apostólica.
O papa Francisco observou: "Nós podemos construir muitas coisas, mas, se não confessamos Jesus Cristo, de nada adiantará. Seremos só uma ONG, mas não a Igreja, Esposa de Cristo".
Não há razão nenhuma para tratar como cidadãs de segunda classe as mulheres que são fiéis ao magistério da Igreja. Elas amam os pobres e amam a Igreja. E Kristof tem razão no seguinte: todos nós devemos imitar essas notáveis mulheres de Deus.
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