Família Cristã
Nos passos de Alberione
Em cada família, uma Bíblia. Eis o desejo que guiou o Pe. Tiago Alberione ao apresentar a Palavra de Deus como uma proposta orientadora para a vida de todas as pessoas. Estava convicto de que a dita «boa imprensa» – livros, rádio, televisão, cinema, música, internet – pode levar às famílias Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida.
A família é o berço da fé. Por isso os Paulistas, desde a sua fundação, têm-na como elemento essencial da sua missão e conteúdo fundamental da sua linha editorial. Na Igreja doméstica aprende-se a confiar na presença de Deus, que não se vê nem se ouve, mas que se sente – e as crianças são sensíveis a isso quando bebem no seio da família o alimento espiritual que as nutre pela vida fora.
O próprio fundador da Família Paulista agradeceu a Deus por ter nascido e crescido numa «família profundamente cristã, camponesa, muito afeita ao trabalho; era proverbial sob este aspeto entre conhecidos e vizinhos» (Abundantes Divitiae Graciae Suae – AD, n.º 124).
Tiago foi o quinto dos sete filhos de Michele Alberione e Teresa Alloco. A mãe despertou-o para o mundo da fé. Conta Luís Rolfo, um religioso paulista que o teve como superior direto durante quatro décadas, no livro Padre Alberione, Anotações para uma Biografia, que foi a progenitora que lhe mostrou o crucifixo e lhe explicou que o Filho de Deus morreu pelos nossos pecados. «Ao levá-lo à igreja, mostrava-lhe o tabernáculo e dizia-lhe que lá estava Jesus, para convencê-lo a não conversar e não ficar irrequieto demais, por respeito com ele. E certamente procurou exortá-lo a invocar com confiança a SSma. Virgem.»
A educação recebida em casa terá contribuído para um dia o pequeno Tiago, ainda com oito anos, dizer na escola que queria ser padre: «A professora Cardona [Rosa] [...] perguntou a alguns dos 80 alunos o que pretendiam fazer na vida. Ele foi o segundo a ser interrogado: refletiu um pouco, depois sentiu-se iluminado e respondeu, com convicção, entre o espanto dos alunos: "Serei padre." Ela animou-o e ajudou-o muito. [...] Desde aquele dia todas as coisas fortaleciam nele aquela decisão. Julga ter sido fruto das orações da mãe, que sempre cuidou dele de maneira particular; e também daquela professora tão piedosa que sempre pedia ao Senhor que algum dos seus alunos se tornasse sacerdote.» (AD, n.os 9 e 10)
Formação da família
Na infância foram construídos os alicerces que o sustentaram para a obra que haveria de edificar com coragem e persistência. Contagiou muitos à sua volta. Os filhos espirituais seguiram-lhe as pisadas. Homens e mulheres prosseguiram o caminho traçado pelo primeiro mestre e abriram-se a novos projetos para evangelizar as famílias. Em dezembro de 1931 nasceu a revista italiana Famiglia Cristiana, em Alba. O título original era La Famiglia Cristiana – Settimanale – Per le donne e per le figle (A Família Cristã – Semanário – Para as mulheres e raparigas). A publicação tinha 12 páginas a preto e branco, com uma gravura da Família de Nazaré. O objetivo da revista vinha na terceira página: «Contribuir para a formação da família, e por consequência para a restauração moral e religiosa da sociedade.»
Domenico Agasso conta em O Beato Tiago Alberione, editor para Deus que era desejo do fundador que a revista fosse útil para as famílias: «Pais, mães, jovens, notícias variadas, etc.» Bem ao estilo do fundador da obra paulista, para apressar o nascimento da publicação, anula uma iniciativa já em curso: «Em Roma está a irmã Nazarena Morando, que se transferiu para lá à espera de embarcar em Nápoles com destino aos Estados Unidos. Pois bem, ordena de repente à irmã Nazarena que regresse o mais rapidamente possível a Alba; para os Estados Unidos embarcará outra irmã e ela dedicar-se-á à preparação acelerada da revista.»
Segundo o relato da Ir. Anselmina, impressora, este é o momento em que nasce a Famiglia Cristiana: «Na noite de Natal de 1931, depois de ter participado na Missa do Galo, e ter comido a tradicional polenta, fui para a tipografia. A mestra Nazarena veio comigo. Acabei de imprimir os primeiros mil exemplares do primeiro número. O primeiro mestre tinha-me dito que o queria benzer no dia de Natal.»
O dia de Natal é vivido pelas Filhas de São Paulo a confecionar e a expedir esta nova publicação, que começa logo com 18 000 exemplares. Mais tarde, a Famiglia Cristiana passou para a Pia Sociedade de São Paulo. Escreveu o Pe. Alberione em 1951 a propósito da publicação: «Famiglia Cristiana apresenta-se timidamente em vossa casa... Não se veste de luxo, mas quer-vos bem e quer fazer-vos bem... Os sacerdotes que a preparam têm uma só intenção: que as famílias sejam as células sãs da sociedade e da Igreja.»
Quando é aberto o Concílio Vaticano II, a revista já tem mais de um milhão de exemplares. Em 1962, o fundador disse que a Famiglia Cristiana «alcança mais almas que todos os livros juntos editados nas várias nações». Naquela altura já estava em circulação a versão portuguesa – que completa 60 anos em dezembro – e a de outros países da Europa e da América. Inicialmente, as edições portuguesa e espanhola da revista eram impressas em Alba com as máquinas que também imprimiam a Famiglia Cristiana.
Muitas famílias reconhecem a importância que a revista, difundida pelos quatro cantos do mundo, assume ainda hoje nas suas vidas pelas muitas cartas que chegam às redações. Falar de tudo cristãmente era o objetivo do fundador da Família Paulista que desejava que os valores perpassassem em cada palavra escrita. «No modo de pensar do Pe. Alberione, o apostolado da imprensa tem sentido só enquanto serve, direta e indiretamente, para tornar conhecido o Evangelho; e os apóstolos da imprensa são dignos deste nome só enquanto agem como instrumentos de Deus em favor de seus irmãos e visam a obter, com as obras e com a vida, que o Evangelho seja amado, praticado e aplicado em todas as expressões da vida humana individual e social.» (Padre Alberione, Luís Rolfo)
Amor começa em casa
O amor começa na família e a Palavra pode tocar cada um dos seus membros, para que também eles passem cá para fora essas sementes de vida. Em 1960, Alberione funda o Instituto Santa Família para envolver os casais na sua obra. «Já em 1931 o padre Alberione, ao dar início a uma das suas principais iniciativas editoriais, a revista Família Cristã, tinha em mente criar algo de mais empenhativo para oferecer às famílias, unindo-as entre si na obra paulista, numa verdadeira comunhão de espírito e de intenções. Não sendo ainda possível fundar institutos seculares, o padre Alberione deu vida à "União das famílias cristãs". Quando, porém, depois de alguns anos de oração e de espera, soou a hora de Deus, fundou ainda este instituto, aprovado pela Santa Sé com os outros institutos agregados em 8 de abril de 1960.» (P. Tiago Alberione, Apóstolo da Comunicação Social, António Ugenti)
O objetivo do instituto é a santificação dos esposos «mediante a prática fiel dos conselhos evangélicos, observados segundo o seu estado de vida conjugal e a colaboração no apostolado paulista, segundo as possibilidades permitidas pelos deveres familiares e os empenhos do trabalho». Podem pertencer ao instituto os esposos e noivos que «sentem um vivo desejo de viver intensamente o sacramento do Matrimónio e de pertencer a uma família espiritual». Em vários países houve casais a aderir a esta vivência proposta por Alberione. Em Portugal, o instituto foi fundado em 1984 por iniciativa do Pe. Vittório Saraceno com a ajuda de uma anunciatina, Deolinda Coelho Malheiro, e uma Filha de São Paulo, a Ir. Constança.
Em Itália surgiu ainda outra organização na senda do beato Alberione: o Centro Internacional de Estudos da Família (cisf.famigliacristiana.it), que promove a cultura de família, analisando as perspetivas dos cenários mutantes da sociedade contemporânea. Tem um centro de documentação especializado nas temáticas familiares, publica um relatório sobre a família em Itália de dois em dois anos, estimula a investigação científica sobre a temática familiar e o debate público através de seminários. Colabora ainda na revista Famiglia Oggi (Família Hoje) dirigida em especial a agentes pastorais e sociais.
Quando hoje se questiona, em qualquer ponto do mundo, se a família está em crise, há um pensamento avulso de Alberione que ilumina as sombras e aponta para o exemplo mariano. A Rainha dos Apóstolos encoraja as famílias a persistirem com confiança pelos caminhos da vida: «Maria ajuda os cônjuges na sua mútua compreensão e afeto, dá docilidade aos filhos, paciência e laboriosidade a todos. Com Maria, a fé recebe novo alento, a esperança do céu é reforçada, a caridade difundida e a vida cristã restabelecida na casa.»
Sílvia Júlio
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