Os requisitos para recebermos dignamente
a Sagrada Eucaristia já nos são conhecidos: não estar em pecado mortal,
ter uma intenção reta e guardar o jejum eucarístico aplicável ao nosso
caso. Se cumprirmos estas condições, de cada vez que comungarmos
receberemos infalivelmente um aumento de graça santificante, juntamente
com muitas graças atuais.
Não é preciso dizer que o nosso aspecto
externo deve estar de acordo com as adequadas disposições interiores. A
mais elementar cortesia exige que, quando nos aproximamos da Comunhão,
estejamos limpos de corpo e de roupa. Não é necessário irmos solenemente
vestidos: Nosso Senhor acolherá sem dúvida com carinho o operário que
se detém no seu percurso até a fábrica para assistir à missa e comungar
com a roupa de trabalho, ou o pobre homem que não tem outro remédio
senão usar a sua roupa remendada e cerzida. Mas a limpeza e o asseio
estão ao alcance de todos.
O mesmo ocorre com a modéstia no vestir.
Os que querem visitar a rainha da Inglaterra deve submeter-se a um
protocolo rígido; e ninguém, sonharia, nem sequer no país mais
democrático do mundo, em entrevistar-se com o presidente da República
vestido de calças curtas e camisa esporte. O Rei dos reis tem
incomparavelmente mais direito às manifestações externas de reverência e
respeito. Não é pedantismo nem beatice, mas piedade da mais elementar, a
que proíbe as sumárias peças esportivas e os vestidos decotados para
nos aproximarmos da Comunhão.
Pode ser útil mencionar aqui o especial
afeto e agradecimento que despertam no sacerdote aqueles que, ao
comungarem – ajoelhados ou de pé -, inclinam a cabeça ligeiramente para
trás, abrem suficientemente a boca e põem a língua por cima dos bordos
do lábio inferior. Felizmente, a maioria dos que comungam fazem isso.
Mas surpreende ver com que frequência o sacerdote tem que transpor
obstáculos tais como cabeças inclinadas para a frente, dentes
semicerrados ou línguas que não se decidem a sair. Se alguém tem alguma
dúvida sobre o seu espírito de colaboração nesta matéria, dê uma espiada
no espelho e tire as conclusões.
Onde está autorizada a prática de
receber a comunhão na mão, os que desejam recebe-la assim devem
apresentar a mão esquerda com a palma aberta sobre a palma da mão
direita. Ali será depositada a Sagrada Hóstia, que deverá ser tomada com
a máxima reverência com o indicador e o polegar da mão direita, e
levada à boca antes de sair do lugar. As normas vigentes não permitem em
caso algum que o próprio fiel tome diretamente a Hóstia do cibório ou
do altar ou que a receba com os dedos em pinça. E a Igreja estabeleceu
que, mesmo nos lugares onde se dá legitimamente a comunhão na mão,
qualquer fiel tem o direito – que deve ser respeitado pelo sacerdote –
de receber a Sagrada Comunhão na boca.
Alguns preocupam-se desnecessariamente
com a possibilidade de que a Sagrada Hóstia lhes toque os dentes, coisa
que é absolutamente irrelevante. Pode-se até mastigar a Hóstia, como se
mastigam os alimentos, pois afinal é alimento espiritual. Embora isto
quase nunca seja necessário.
Quer mastiguemos a Sagrada Hóstia ou
não, o que devemos garantir é que a engulamos, já que a Sagrada
Eucaristia é alimento espiritual, e, para recebê-lo, temos de comê-la.
Se quiséssemos que a Sagrada Hóstia se dissolvesse completamente na
boca, de modo que já não conservasse as aparências de pão, não
receberíamos a Sagrada Comunhão nem as graças que esse sacramento no
confere. Devemos, pois, manter a Sagrada Hóstia na boca apenas o tempo
suficiente para que se umedeça e possamos ingerir.
Seria um erro sério recebermos a Sagrada
Comunhão quando sofremos de indisposições digestivas que possam
facilmente produzir vômitos. Se alguém sofre um ataque repentino de
náusea e vomita a Sagrada Hóstia, deve recolhê-la num pano e entrega-la
ao sacerdote para que disponha dela. Se o Sacerdote não se encontra
perto ou se têm dúvidas de que as aparências de pão ainda subsistem, os
vômitos devem ser envolvidos num pano e queimados.
Voltando a temas mais agradáveis e mais
práticos, propomos uma tríplice questão: “Com que frequência me é
permitido comungar? Com que frequência tenho obrigação de comungar? Com
que frequência deveria comungar?”
A norma geral autoriza a comungar até
mais de uma vez por dia; só precisa que, “quem já recebeu a Santíssima
Eucaristia, pode recebê-la de novo no mesmo dia unicamente dentro da
celebração eucarística na qual participe” (CDC, cân. 917).
Temos obrigação de comungar uma vez por
ano pela Páscoa (desde a Quarta-feira de Cinzas até o domingo de
Pentecostes) e em perigo de morte. Omitir deliberadamente a comunhão em
qualquer desses casos é pecado grave.
Deveria comungar com a frequência que se
fosse possível; o ideal seria que fosse diariamente. A Sagrada
Eucaristia é o nosso alimento espiritual e, pelo menos, deveríamos ter
tanto interesse em alimentar a nossa alma como em alimentar o nosso
corpo; ora, ninguém passa muito tempo sem tomar uma refeição. A Sagrada
Eucaristia é também garantia de felicidade eterna, se a recebemos
regularmente e com razoável frequência, todos os dias, se pudermos.
Jesus prometeu: Quem come deste pão viverá eternamente (Jo 6,59). Com os
privilégios que a Igreja concedeu aos que têm dificuldades para jejuar,
deveríamos fazer o propósito de receber a Sagrada Comunhão em todas as
missas a que assistamos, como faziam os primeiros cristãos.
Suponhamos que estamos preparados por
dentro e por fora para fazer uma comunhão digna. Podemos perguntar-nos:
“Quantas graças poderei receber quando comungar?”.
Já ouvimos dizer que uma só comunhão
contém um depósito inesgotável de graças, que uma só comunhão seria
suficiente para tornar santa uma pessoa. Já ouvimos estas e outras
afirmações parecidas, e podemos sentir-nos um pouco desanimados ao ver
que, apesar das nossas comunhões frequentes, ainda parece que nos
movemos em níveis de santidade demasiado medíocres.
Não há dúvida de que cada comunhão
contém um depósito inesgotável de graças: quem está presente na Sagrada
Eucaristia é Jesus Cristo, e Jesus Cristo é Deus, e Deus é infinito, e
pode conceder graças infinitas. Mas o total de graças que cada indivíduo
recebe numa comunhão depende da capacidade que esse indivíduo tenha.
Há muita água no Oceano Atlântico, mas
uma garrafa de litro só poderá conter um litro dessa água, mesmo que a
mergulhemos até o fundo. De forma parecida, a nossa alma tem uma
capacidade limitada para a graça. Como criatura finita que é, nenhuma
alma humana pode ter capacidade infinita para a graça, nenhuma alma está
em condições de absorver toda a graça que uma comunhão põe à sua
disposição.
Mas isto não quer dizer que em cada uma
das nossas comunhões estejamos conseguindo toda a graça que nos é
possível. Não quer dizer que não possamos aumentar a nossa capacidade de
adquirir graça. Se a garrafa que mergulhamos no oceano não está vazia,
mas cheia de areia até três quartos, não tiraremos um litro de água, mas
apenas um quarto de sua capacidade total. Se Deus sabe qual é a
capacidade máxima de graça de uma alma. Mas todos podemos ter a certeza
de ainda não a havermos alcançado.
Aumentamos a nossa capacidade de graça
quando retiramos a areia da garrafa, quando tiramos os obstáculos à
graça que embaraçam a nossa alma. O primeiro e o maior deles é o apego
do pecado venial (uma comunhão digna pressupõe ausência de pecado
mortal). Enquanto houver um só pecado venial que não queiramos abandonar
(um rancor contra o chefe, a intemperança no uso do álcool, uns
comentários maliciosos com laivos de murmuração), estaremos reduzindo a
capacidade de graça da nossa alma.
Uma vez livres do pecado venial, ainda
resta a luta contra as imperfeições, essas falhas que mostram que o
nosso amor a Deus não é ainda de todo o coração. Pode haver em nós
desleixo ou desinteresse na nossa oração, resistência egoísta em ajudar o
próximo, falta de esforço para vencer a nossa irritabilidade ou
impaciência, certa vaidade infantil nas nossas atitudes ou nos nossos
talentos.
Sejam quais forem, essas imperfeições são provavelmente muitos
grãos de areia na nossa garrafa.
Que podemos fazer com esses pecados e
imperfeições? Pôr um pouco mais de esforço e receber a Sagrada Comunhão
com maior frequência. Um efeito maravilhoso da graça da comunhão é que
nos purifica e fortalece contra as mesmas coisas que a impedem de agir.
Com um pequeno esforço da nossa parte, cada Sagrada Comunhão prepara o
caminho para maiores graças na seguinte. Cada comunhão edifica sobre a
anterior.
Este fato esclarece também a afirmação
de que “uma só comunhão é suficiente para fazer um santo”. É verdade que
o Senhor podia, por um milagre da sua graça, fazer de um pecador um
santo com uma só comunhão. Mas, normalmente, permite que o crescimento
na santidade seja um crescimento orgânico, gradual e estável como o de
uma criança, que mal se percebe de um dia para o outro. De novo aqui uma
graça edifica sobre a anterior. É melhor para a nossa humildade não
conhecermos claramente o progresso que fazemos.
A única conclusão que devemos tirar de
tudo o que acabamos de ver é que nos importa muito que cada comunhão nos
leve o mais longe possível. Isto exige uma preparação imediata de cada
comunhão, que estimule os nossos sentimentos de arrependimento, fé, amor
e gratidão, que nos arraste a uma entrega autentica, para
identificarmos a nossa vontade com a de Deus. E é evidente que cumprimos
tudo isto se nos unimos com sinceridade recolhimento ao oferecimento da
missa.
Depois, temos esses preciosos minutos
após a comunhão, em que Nosso Senhor Jesus nos tem, poderíamos dizer,
abraçados. A ação de graças da comunhão significa perguntarmo-nos
valentemente: “Senhor, que queres que eu faça?”, e escutarmos com mais
valentia ainda a resposta que virá. Se a bênção final da missa nos
apanha já com um pé no corredor, preparados para empreender uma veloz
corrida para casa em busca do nosso café com leite, é que estamos
malbaratando lastimavelmente muitas graças que Jesus ainda não acabara
de nos dar. Fora alguma circunstância excepcional, deveríamos ter por
norma permanecer na igreja por mais dez minutos, dando graças pela
comunhão.
Há um ponto final (e muito consolador)
que convém ter presente: podemos comungar com muita frequência; podemos
preparar-nos adequadamente para a comunhão e depois dar graças com
generosidade; podemos estar tratando sinceramente, de comunhão em
comunhão, de pôr em prática os nossos propósitos e, apesar de tudo isso
(ou talvez por causa disso), sentirmo-nos insatisfeitos conosco
próprios. Então, não nos limitemos a exclamar: “Com tantas comunhões,
como devia ser melhor!” Perguntemo-nos também: “Sem tantas comunhões,
que seria de mim?”
Retirada do livro: A Fé explicada, Leo J. Trese.
Fonte: cleofas.com.br
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